Equipe Antônia de Jornalismo: Qual sua opinião sobre a iniciativa que tem como objetivo oferecer para população de baixa renda alimentação por baixo preço?
Edivaldo Silva: A iniciativa não deveria ser analisada a partir de uma grade divisória entre positividades e negatividades; para refutá-lo peremptoriamente, de um ponto de vista crítico, contra a iniciativa estatal que atuaria somente tendo em vista a reprodução de desigualdades sociais.Nem tampouco, associá-lo, elogiosamente, ao Estado enquanto ‘núcleo positivo’ de correção compensatória da dinâmica de funcionamento da sociedade capitalista.
No aspecto positivo há um avanço em relação ao regime alimentar dos trabalhadores, pois permite a distribuição de uma alimentação recém-cozida, com a manutenção de vitaminas e calorias necessárias à força-de-trabalho, a partir da planificação de mão-de-obra qualificada (nutricionistas). Por parte das classes de menor poder aquisitivo há uma avaliação positiva quanto à redução do custo diário para se manter como força produtiva ativa e, quanto aos trabalhadores inativos (aposentados), verificou-se que representam 60% dos consumidores nestes restaurantes populares.
Em sua dimensão negativa, com certeza, os restaurantes populares ingressam na ‘economia’ de políticas filantrópicas, tanto social-democratas como neoliberais, para administrar conflitos na sociedade global, quando o desemprego não é apenas conjuntural, mas estrutural, permanente, contínuo; vindo para ficar.
Equipe Antônia de Jornalismo: O projeto leva a segregação das pessoas, hierarquizando ainda mais a diferença/distância entre as classes sociais?
Edivaldo Silva: A iniciativa não deveria ser analisada a partir de uma grade divisória entre positividades e negatividades; para refutá-lo peremptoriamente, de um ponto de vista crítico, contra a iniciativa estatal que atuaria somente tendo em vista a reprodução de desigualdades sociais.Nem tampouco, associá-lo, elogiosamente, ao Estado enquanto ‘núcleo positivo’ de correção compensatória da dinâmica de funcionamento da sociedade capitalista.
No aspecto positivo há um avanço em relação ao regime alimentar dos trabalhadores, pois permite a distribuição de uma alimentação recém-cozida, com a manutenção de vitaminas e calorias necessárias à força-de-trabalho, a partir da planificação de mão-de-obra qualificada (nutricionistas). Por parte das classes de menor poder aquisitivo há uma avaliação positiva quanto à redução do custo diário para se manter como força produtiva ativa e, quanto aos trabalhadores inativos (aposentados), verificou-se que representam 60% dos consumidores nestes restaurantes populares.
Em sua dimensão negativa, com certeza, os restaurantes populares ingressam na ‘economia’ de políticas filantrópicas, tanto social-democratas como neoliberais, para administrar conflitos na sociedade global, quando o desemprego não é apenas conjuntural, mas estrutural, permanente, contínuo; vindo para ficar.
Equipe Antônia de Jornalismo: O projeto leva a segregação das pessoas, hierarquizando ainda mais a diferença/distância entre as classes sociais?
Edivaldo Silva: Não que o projeto per si leve a segregação, mas, talvez, ingresse na política de territorialização da pobreza, já contido na divisão centro-periferia, áreas nobres-áreas populares, bairros e favelas.
Equipe Antônia de Jornalismo: Como pode ser considerado o comportamento das pessoas que não freqüentam o restaurante e se referem ao local com desdenho e preconceito?
Edivaldo Silva: A questão já contém a resposta; o comportamento é moldado pelo preconceito, pois o tolerável para as classes economicamente elevadas era: a pobreza confinada no interior dos refeitórios de empresas ou disseminadas por todo o espaço urbano, com os ‘moradores de rua’.
A população discrimina aqueles que freqüentam o restaurante, pelo local ser freqüentado por pessoas de baixa renda, moradores de rua, etc?
Sim, pois predomina uma subjetividade de ‘classe média’, que se vê agredida pelo ‘espetáculo’ da pobreza. Michael Hardt, filósofo americano, fala algo sobre a discriminação racial que pode ser ampliada para a analítica das subjetividades sobre a pobreza. De acordo com Hardt o racismo mudou de forma, não se trata mais de perseguir o outro, o diferente, mas se afirma como multiculturalismo, isto é, com o enunciado: Aceito a diferença, desde que ela fique no seu lugar, no seu território, que decididamente não é o meu.
No caso da pobreza, se trata da mesma coisa, ‘territorialidades’: o confinamento da pobreza em espaços cartograficamente precisos. Diversos autores consideram que nas sociedades atuais, as favelas são concebidas como ‘campos de concentração’ em espaço aberto. Análises mais aprofundadas são exigidas, sobre os locais de concentração destes restaurantes populares, para precisar se este princípio de ‘territorialização da pobreza’ é o determinante. De qualquer modo, é uma hipótese a ser considerada. Na região central de São Paulo, por exemplo, o “Bom Prato” se situa próximo do Largo Paissandu, adjacente a uma zona, desde a década de sessenta, popularizada como “Boca do Lixo”.
Equipe Antônia de Jornalismo: Como pode ser considerado o comportamento das pessoas que não freqüentam o restaurante e se referem ao local com desdenho e preconceito?
Edivaldo Silva: A questão já contém a resposta; o comportamento é moldado pelo preconceito, pois o tolerável para as classes economicamente elevadas era: a pobreza confinada no interior dos refeitórios de empresas ou disseminadas por todo o espaço urbano, com os ‘moradores de rua’.
A população discrimina aqueles que freqüentam o restaurante, pelo local ser freqüentado por pessoas de baixa renda, moradores de rua, etc?
Sim, pois predomina uma subjetividade de ‘classe média’, que se vê agredida pelo ‘espetáculo’ da pobreza. Michael Hardt, filósofo americano, fala algo sobre a discriminação racial que pode ser ampliada para a analítica das subjetividades sobre a pobreza. De acordo com Hardt o racismo mudou de forma, não se trata mais de perseguir o outro, o diferente, mas se afirma como multiculturalismo, isto é, com o enunciado: Aceito a diferença, desde que ela fique no seu lugar, no seu território, que decididamente não é o meu.
No caso da pobreza, se trata da mesma coisa, ‘territorialidades’: o confinamento da pobreza em espaços cartograficamente precisos. Diversos autores consideram que nas sociedades atuais, as favelas são concebidas como ‘campos de concentração’ em espaço aberto. Análises mais aprofundadas são exigidas, sobre os locais de concentração destes restaurantes populares, para precisar se este princípio de ‘territorialização da pobreza’ é o determinante. De qualquer modo, é uma hipótese a ser considerada. Na região central de São Paulo, por exemplo, o “Bom Prato” se situa próximo do Largo Paissandu, adjacente a uma zona, desde a década de sessenta, popularizada como “Boca do Lixo”.
Equipe Antônia de Jornalismo: O Bom prato é uma forma de limitar a população à sua atual condição financeira?
Edivaldo Silva: Não necessariamente. Estar em um restaurante popular, não produz este diálogo secreto, penitente-punitivo do trabalhador com o prato de alimento: “Se eu te devorar, estarei me destinando irremediavelmente à condição de pobreza?” Outras questões são levantadas que se dirigem não apenas à redução da alimentação ao ato de satisfação de uma necessidade natural, mas, ao aspecto propriamente estético – qualidade e diversidade dos alimentos, higiene e condições sanitárias – e social: padrão de atendimento, conformação de horários de refeições entre empresas e restaurantes, redução do período de espera, evitando filas, etc.
Equipe Antônia de Jornalismo: O projeto serve para tentar maquiar a pobreza atual das pessoas, comprando-as com um prato de comida e esquecendo de outras questões como educação, segurança, etc?
Edivaldo Silva: Nas sociedades contemporâneas, o implemento de tais planos não é o indicador mais preciso para se distinguir uma força política, nos termos consagrados no século XX: “Esquerda”, expressões partidárias representativas das classes populares; Direita: partidos políticos defensores dos interesses da classe abastada. Hoje, tais planos são estrategicamente necessários para qualquer força política que se instale no poder para a manutenção de um padrão de sociedade tecnológica, que cada vez demanda menos força de trabalho humana.
No Brasil, as políticas assistencialistas e o monetarismo – controle da inflação - são os vetores da ação estatal, com o adiamento, indefinidamente prorrogável, da formulação de um projeto de desenvolvimento econômico nacional.
No entanto, a perspectiva de mudanças sociais não implica apostar na intensificação da pobreza; no raciocínio de que somente a partir de uma população faminta se consolidará transformações sociais de fundo. Alimentação, mas também a avidez por saberes são elementos necessários para a produção de energias e desejos, necessários para, nos termos de Rimbaud, mudar a vida.
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